sábado, 19 de dezembro de 2009

Outro dia.

Sim, as pessoas complicam, as pessoas sofrem, as pessoas morrem todos os dias, e as pessoas decidem fazer algo - ou não.

As pessoas criam compartimentos onde suas decisões devem se encaixar, mas as pessoas frequentemente acham jeitos de decidir em um compartimento diferente. As pessoas vivem lá fora e morrem lá fora. As pessoas vivem aqui dentro e se asseguram aqui dentro. As pessoas assistem, e as pessoas experimentam. Só as pessoas é que não entendem que as pessoas são todas as mesmas. Ontem, hoje ou amanhã. Sempre as mesmas.

Os direitos humanos precisaram ser colocados no papel para as pessoas o reconhecerem. É assim que as pessoas são. A coisa mais óbvia é que não há nada óbvio o suficiente quando se trata do mundo lá fora...

Hoje assisti mais um filme sobre a obviedade da violência, da manipulação, dos interesses, do alheio. Mas também da vontade de se fazer alguma coisa. Algumas pessoas ainda falam para outras pessoas que as coisas estão erradas... só é preciso escolher qual delas se é. E se continua sendo...



Shake Hands with the Devil ("Apertando a mão do Diabo"), do Roy Dupuis, é baseado na auto-biografia do peacekeeper (um integrante de missão de manutenção da paz da ONU) Roméo Dallaire, que teve de ver o horror no Ruanda, em 1994, quando houve um genocídio. Os números variam, mas estima-se que 500.000 pessoas foram assassinadas em apenas algum meses, maioritariamente da etnia Tutsi. O histórico é longo, e nada pode ser simplificado nesse contexto, como em qualquer outro.

A colonização do Ruanda foi feita pela Bélgica. Uma das táticas usadas é a de dar privilégios a grupos étnicos minoritários, como os Tutsis, para que a população fique dividida e mais facilmente controlável.
Com a independência do Ruanda, em 1959, os Hutus, o outro grupo étnico, maioritário, rebelaram-se contra os Tutsis, expulsando-os do país.

Por volta de 1993, um grupo de Tutsis tentou voltar ao Ruanda, o que causou grande turbulência e uma guerra civil. Chegou-se a um Acordo de Paz, e foi então que a ONU enviou uma Missão de Manutenção da Paz ao país (UNAMIR). Em 1994, porém, com aumento das tensões, o governo Hutu e seu exército apoiaram e participaram do assassinato de tutsis e qualquer hutu que tentasse ajudá-los.

As Missões de Manutenção da Paz, como diz o nome, se limitam a assegurar que a paz, instável, seja fortalecida em um contexto pór-guerra/conflito. Por isso, verão ao longo do filme que o General Roméo Dallaire é constantemente ordenado que fique neutro, não tome lados. Negociar pela paz com ambos os lados, esse é o seu papel, já que os riscos de escalada do conflito são a todo momento calculados, sem se chegar a um resultado previsível. Por isso o filme se chama "Apertando a mão do diabo": ele sabe quem são os criminosos, mas não pode fazer nada quanto a isso.

Assistam o filme, vale a pena. Aviso: é triste, mas vale a pena tentar entender essas situações.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Blue violets

A primavera vai longe e, no meio do outono, achei um dia ensolarado. A vida e o tempo têm sentidos diferentes em dias como este, cheiro, som, cores, e tudo é enquadrado em novos retratos.

As pessoas se colocam em outras posturas, repousam-se em diferentes sonhos, expressam-se em outras vozes, com outras respostas. Seus olhos abrem diferentes janelas, seus paladares sentem outros sabores, suas mãos tocam diferentes texturas, seus corpos envolvem-se em confortável calor, em dimensão mais profunda.

"Seems like only yesterday
Life belong to runaways
Nothing here to see, no looking back
Every sound monotone
Every color monocrome
Life begin to fade into the black
Such a simple animal
Steralized with alcohol
I could hardly feel me anymore

Desperate, meaningless
All filled up with emptiness
Felt like everything was said and done

I lay there in the dark, I close my eyes
You saved me the day you came alive

Still I try to find my way
Spending hours, endin' days
Burning like a flame behind my eyes
Drown in out, drink it in
Crown the king of suffering
Prisoner, slave 'til in the skies
Disappeared the only thing
Bittersweet surrendering

Knew that it was time to say goodbye

I lay there in the dark and I close my eyes
You saved me the day that you came alive
The reason you left me to survive
You saved me the day you came alive

Come Alive 
[x33]

I lay there in the dark and I close my eyes
You saved me the day that you came alive

Come Alive 
[x15]

Nothing more to give
I can finally come alive
Your life into me
I can finally breathe
Come alive

I lay there in the dark
Open my eyes
You saved me the day that you came alive

Come Alive 

d--b :: Foo Fighters, "Come Alive"

sábado, 7 de novembro de 2009

Fúria

O dia de ontem fechou-se em choviscos, espalhou água durante suas 24h, às vezes fraco, indeciso, às vezes forte, poderoso. Ninguém podia se sentir feliz, ontem.

Hoje, a fúria, decidiu-se. Abriu o céu, falsa esperança para aqueles que querem aproveitá-lo. Aqui dentro ouço o rugido do dia que zanga-se desde que nasceu. Arrasta as folhas que conseguiram atravessar o portão do outono, espalha-as, confunde, causa o caos.

Energia furiosa de um dia impaciente... as folhas verdes mal resistem, grudadas ao solo por fracas raízes. As flores, as poucas que restaram nessa indecisão outonal, choram enquanto destacam-se das plantas, entregando-se à vontade do mestre. Flutuam por algum tempo e podem sentir-se livres, antes de morrer. Sacrifícios do mestre, raivoso.

Inspira muito, assopra forte, tirando tudo o que puder do lugar. Que lugares? As coisas misturam-se, desordem. Que ordem? Mexam tudo isso! Tirem tudo isso do caminho! Meu caminho, para uma nova estação que não consegue chegar...

Trago até vocês o frio, a reclusão, a solidão. Aproveitem.

sábado, 31 de outubro de 2009

Halloween



Ah, claro, e hoje é Halloween!



Claro que não nos esquecemos, afinal, é também meu aniversário. Desde criança fiz a ligação (confesso que não muito alegre pra muitos, mas eu sempre adorei): Halloween -» aniversário. Fantasias horrendas, acho-as fantásticas!

Separei algumas fotos legais que achei:

Creepy day (and night) for you all!
UAHAHAHAUAHAHAHAA!!!












Sem pensar.

Não está fazendo contas, não está tendo epifanias filosóficas nem entrando em Nirvana.

Escuta uma música, encanta-se, hipnotiza-se, vidra, perde, deriva, flutua, espalha-se por todo o ar e o espaço à sua volta. Mente lateja, mas sem grandes conteúdos. É só deixar o som entrar, as letras dançarem e os instrumentos arrastarem-na pelo ar das divagações.

Mais uma vez, é o tempo que se deforma, que trespassa territórios não permitidos, mas o faz sempre.
Descanso em boa(s) hora(s). Depois dessas vêm as faixas que a fazem querer levantar, fazer algo nesse tempo, usá-lo, aproveitá-lo e continuar a construção.


Sometimes "you can't give enough". Tempos e sons, as vezes não podem tudo. Só às vezes.

sábado, 24 de outubro de 2009

Sábado de (in)decisões

Hoje o dia explode, hoje o dia se revolta, o dia precisa decidir os pontos finais!

A consequência disso é esquecer-se de fechar a torneira do verão, que ficou ainda pingando...
Ontem frio, nublado, hoje nublado, abafado. É a claustrofobia da decisão sem muitas saídas.

Anda de um lado para o outro, ouve histórias, medos, sente-se encurralado pelos outros. Indignado, não aceita. Mais indignado ainda, quase luta pelo outro, que se deixa encurralar.

Dia, cinza, dia que engoliu todas as pílulas de uma só vez. Engasgou-se, adoeceu. Mas ainda anda de um lado para o outro.

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Anoitece. O clichê manto negro (nublado que esconde as estrelas e qualquer luz reconfortante) lembra que o dia acabou, que é quase hora de apagar a claustrofobia com as decisões, finalizar.

Boa noite. Tem que ser.

d--b = Alice in Chains (ela e nós, tantas vezes... vezes demais)



sábado, 17 de outubro de 2009

Music Day - Reading Day

Outro dia musical + leitura.

Café, livros, Mp3, e as mesmas coisas quando de volta à casa.
Today's climate change:


            Backspace, novo do Pearl Jam (2009)




E (menos):




Os fins de semana, apesar de Pearl Jam, definitivamente têm precisado ir lá fora tomar um ar fresco...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Tempos

Correm tempos, e eu só "passo".

Passarei por aqui, mas deixarei linhas. Recuso-me a passar(me) em branco.

Dias correm, noites dormem, músicas ficam guardadas e eu corro de lá pra cá, tentando fazer o dia cumprir obrigações, metas. É claro que ele não dá conta, mas por que meu corpo desiste quando encontro o outro corpo. Me aconchega e me ajuda a mergulhar em sonhos mais tranquilos.

Quase parece que passo o dia a correr e a noite a sonhar. Venham sonhos meus, e penso na hora do banho, na hora do café, na hora do caminho. Se é que penso no caminho. Apenas ando... e corro... qualquer hora, chego.
UFA!

sábado, 3 de outubro de 2009

Começa Outubro

Assim, fatalista, cor nova, mais forte, mais seca, mais Outono.

Outubro de Outono, tento aqui me preparar para uma mudança de Estações que há dias espero.

Anseio em linhas de outros dias, em pensamentos de outros dias, de todos os momentos. Não sei bem o que esperar. Faz tempo que nós tentamos não esperar, sem expectativas é igual sem frustrações. Mas nós não sabemos manter as coisas racionalizadas assim, sabemos? Não queremos.

Boa noite.

domingo, 27 de setembro de 2009

Ócio em Domingos.

Tem tempos, horas, minutos, segundos infindáveis.

Vontade de nada, vontade do tempo, vontade do amanhã. Anular? O dia lá fora revolta-se com essa ideia. Deve servir pra alguma coisa...

Levantar, TV ligada no jornal, catástrofes e conflitos armados lá fora, prendem atenção, informações absorvidas, atualizações, planos de reação. Informações climáticas, é hora de lavar o corpo da noite de sonhos pesados, preocupações vazias, passados.

Banho quente povoado por musiquinhas, linhas de comunicações internas totalmente cruzadas, caminhos sem começo, ideias sem origem (aparente), lembranças relâmpago. Onde vim parar? Já estou no quarto outra vez, me vestindo. Escolhe a roupa de forma desplicente, calor ou fresco? Sentada ou andando..? Nem tão desplicente, provavelmente.


(Variações...sou ela ou sou eu?)

Come qualquer coisa, juntei o que deu, coloquei no microondas. Nem coloco a mesa, estou sozinha hoje, outra vez, sozinha com meu ócio. Assistindo o resto do jornal, logo vou ver meus emails, pesquisar sobre o que vi na TV, esperar ele voltar... vamos passear nas docas? Mas nem tão passiva. Não passivarei! Ontem fui ao teatro. Preferi não ter ido. As coisas perdem a graça devagar. Já preciso me mudar outra vez... mas pareço levar comigo as sementes, o pólen do "tudo volta ao anterior, outra vez...". Não, não da próxima vez...

domingo, 20 de setembro de 2009

Meio Setembro

Sol quente perde a força. Dia claro, aberto, recolhe-se, descansa. Chuva, vento, nuvens vêm retomando seu lugar nos dias que se seguirão até o próximo ano...
É um caminho sem volta. Desejei que essa troca de turnos chegasse, mas o dia fecha-se tão rápido! Dê-me tempo para despedir-me do Sol, pedir desculpas pelo meu anseio em me livrar de tanto calor!


- É assim, e triste não precisa ser a minha despedida. Partirei em breve, ou deixo-te assim, lentamente? Prefere sentir-me e fotografar-me com a pele? Servirá para nostalgia ou para consolo de que em breve, ou nem tão breve assim, voltarei? Toma, vem aqui fora ficar comigo nesses útlimos momentos. Vem, aproveita que o dia ainda tem cheiro, som, luz, cores.

 Sim! E presto atenção à mudança, lembrando-me de me dedicar a isso sempre que descanso a mente, o corpo. Verei a claridade sumir aos poucos, os pássaros esconderem-se do frio e da chuva, as pessoas encolherem-se em preto e cinza, fecharem o rosto, protegerem-se, desaparecerem das ruas, aos poucos.
Ciclos...formigas também se sujeitam a eles. 

Para mim ficarão as novas impressões: árvores nuas, vulneráveis, móbidas, solitárias. Mas os galhos secos me alcançam, potiagudos, me absorvem, contrastando com o cinza do céu, de um dia. Que venha, pesado Outono, trazendo nem tão vagarmente o Inverno. Em muitas ocasiões, digo que é o meu preferido...



sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sau... dades?

Saudades, é isso.

Aquela coisa estranha que fica presa na garganta em dias mais monótonos, em dias mais silenciosos. É preciso toda uma série de condições pra que sentimentos como esse venham à tona.

Mas ela sempre sentiu isso, não foi? Ela sempre pensou, com a mente mais lá do fundo, nas coisas e pessoas que deixou pra trás, nas paisagens, nas sensações, nas vidas que teve e que trocou. Não com remorsos, ainda não deu tempo de se arrepender.

Ainda não é uma velha solitária que preferia ter por perto as vidas e condições que sempre teve, e que gastou, como se fosse um jogo estúpido. Pelo menos não por fora, e ainda não por dentro. Ela sabe das coisas que teve que trocar, ela sabe do valor das ausências, e o quanto esse valor extrapola quando ela se deixa parar para pensar nele com todas as suas mentes.

A praticidade e a responsabilidade sempre tentaram sufocar ali dentro as mentes sensíveis, as mentes que se dedicam àquelas paisagens, àquelas risadas, às conversas, aos carinhos, aos olhares, ao conforto. A filha ficou pra trás, a irmã também, mas lembra-se com mais pesar, a namorada e a amiga disputam com a construtora um lugar entre os dias.

Os dias... esses tornam-se pesados com facilidade. Apagam o anseio devagar, e para quem diria que isso é uma boa coisa: não é. É quase como algum bicho que nos consome a energia, que vai-nos retirando pequenos pedacinhos. Até o dia em que nos sentimos deformados, quase irreconhecíveis.

Respirar fundo nas paisagens que a lembram os por quês, os comos e os por quem é o combustível que a permite continuar flutuando naquele rio calmo, debaixo do sol confortante, que injeta pela pele a beleza e frescura do dia, a paz que é estar ali, com o especial dos dias dela,  os olhos que a embalam para dormir um sono despreocupado.

Mas esse é um momento em que deixou as coisas brotarem. Aos poucos ela volta à construtora que deixa a namorada e a amiga partilharem com ela o mesmo lugar. É preciso caminhar, parar, descansar, respirar fundo, e levantar outra vez. Os dias continuam bonitos, claros, abertos, ou escuros, cinzas. Quando esses chegarem, vão cativá-la da mesma forma. Ela me contará, e eu escreverei, nos aquis.

Sonho escrito 02

De repente estava ali, naquela casa estranha, aparentemente abandonada, com um pequeno grupo de pessoas que nunca tinha visto antes. Não teve tempo de olhar pra elas, de reparar, estavam todos com apenas uma coisa em mente: sobrevivência.

Buscavam, reviravam, qualquer coisa que encontrassem serviria. Tinham armas rústicas, lutavam desde há pouco, mas não sabiam mais desde quando exatamente. Algo, de repente, tomou a atmosfera, apoderou-se do mundo e das suas vidas comuns.

As feições só traduziam anseio, remorsos, pressa, medo. Uma mulher, mais velha, liderava o que parecia ser um grupo de sobreviventes que não se contentou com uma toca escondida, como se tivessem de esperar a tempestade passar - se é que passaria. Resolveram sair, resolveram enfrentar o que fosse para retomarem seus mundos, não que esperassem de volta a "normalidade"...

Tentava resgatar alguma clareza de pensamento a todo o momento, precisava ser ágil, prática e, uma vez mais, sobreviver. Naquela casa bem feita, em que há pouco tempo teria habitado uma família de classe média alta bem estruturada, desviavam de alguns sinais de luta, de pães mofados e comida estragada. Precisava encontrar comida, uma mochila onde guardar isso e roupas limpas, instrumentos, e quem sabe tomar um banho rápido, não queria parecer um animal selvagem...

Tentou passar por um corredor longo, assustou-se com estranhos insetos, nunca os tinha visto antes. Provavelmente eram novos. Não sabia como, mas lembrou-se de alguém lhe dizer que eram uma nova espécie naquela região, não se sabia de onde vinham mas eram venenosos, perigosos. Bateu na roupa suja para espantar alguns, pequenas criaturinhas meio aracnídeas pretas e vermelhas, com algum brilho.

Chegou a um tipo de segunda casa anexada à primeira, sem portas. Estavam ali os quartos das crianças, lugares onde pareciam habitar uma garotinha e um menino. Imaginou, por uma fração de segundo, que deviam ser crianças felizes. Sentiu algum conforto, mas sabia que não duraria mais do que poucos minutos. Do outro lado do corredor, encontrou um enorme banheiro, muito bem decorado. No canto direito, atrás de uma parede que cobria apenas metade do banheiro, parecia haver uma grande janela, já que muita luz  vinha dali. Podia ver também o começo de uma grande banheira.

Tomou um banho rápido no chuveiro de fora e só depois pensou em ir olhar à janela. Virando à esquina da meia-parede, viu a imensa janela, tinha uma vista muito agradável, quase a enganou com a sensação de que o mundo estava como sempre esteve. O dia claro entrando por ali, o verde lá fora, de um jardim bem cuidado, com algumas árvores e arbustos fizeram-na esquecer-se de olhar o resto do que estava por trás daquela parede. Quem dera tivesse continuado assim... ao voltar o olhar para o canto, dentro da banheira, viu um homem sem camisa, de costas para ela, olhando pela janela. Estava muito pálido, imóvel, mas respirava muito silenciosamente. Podia notar que havia algo errado, e ela sabia exatamente o que era. Ele já estava ali, à espera, já não tinha por que correr, por que lutar. Já havia se transformado e, ao se virar lentamente, pousou sobre ela aqueles olhos negros, inexpressivos, mortos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

"Anjos e Insetos"

- "O mundo mudou tanto, William, durante a minha vida. Estou velho o suficiente para ter acreditado nos primeiros pais no Paraíso. Como um garoto, para ter acreditado em Satã escondido na serpente, e no arcanjo com sua espada flamejante, fechando o portão...

E agora é suposto que eu acredite em um mundo em que somos o que somos por causa das mutações da geléia mole e dos ossos cálcicos, que se repetem e repetem através de inimagináveis milênios...

Um mundo em que anjos e demônios não batalham no Céu, mas no qual comemos e somos comidos, e absorvidos em outros sangues e carnes.

Eu devo mofar como um cogumelo, quando chegar a minha hora. E vai ser em breve.

Eu acabarei minha vida como o esqueleto de uma folha, prestes a se tornar húmo, um rato capturado por uma coruja, um bezerro indo para a carniceria através de um portão que leva a apenas um caminho: sangue, pó e destruição.

E então eu penso: nem uma besta bruta pensaria tais coisas..."

Filme "Anjos e Insetos", 1995.

domingo, 30 de agosto de 2009

Idosos

Esvaziou-se.

Foi, com o vento. Um estalo, e acabou. Mudando de assunto...

Indagações sem forma verbal - sonho escrito 01

Indagações sem forma verbal.
Não sabia que horas eram, que dia era, de onde viera e muito menos como fora parar ali. Não tinha acabado de acordar de um desmaio, ou algo do gênero, mas parecia acabar de recobrar a consciência. Também não havia perdido a memória, sabia muito bem quem era, e as pessoas que conhecia. Só parecia ter perdido algum tempo no vento.
 
Demorou um tempo até olhar à sua volta. Os olhos pareciam pesados demais para serem levantados, mas também ainda nem tinha pensado em olhar.
Um horror. Algo quente percorreu-lhe o corpo a toda velocidade, e pareceu dar-lhe forças para se desesperar. Estava em um tipo de galpão, mas com grandes janelas, se pode-se chamar assim, e uma enorme porta de ferro: fechada.
Por que não chegar às janelas? O galpão estava abarrotado de… zumbis?!
Não, um olhar mais crítico a fez perceber que estavam todos bem vivos – inclusive ela -, mas com algum tipo de doença horrorosa, talvez como aquela peste da Idade Média na Europa.
Numa segunda análise, pôde ver que pouquíssimas pessoas ali não tinham aquela doença, mas pareciam agir como se tivessem. Ela mesma não tinha, certamente. Ou, pelo menos, não em estágio tão avançado. Essa segunda análise deu-se em uma fração de segundo perdido, já que o desespero se seguia. Não entendia o comportamento daquelas pessoas, doentes, mas de alguma forma, controladas por algum pensamento maligno. Não, não que pudesse ler mentes, mas via-as tentando capturar os que não pareciam doentes. Talvez essa fosse a razão para agirem como tais…
Estava em um canto, nada protegida, e logo começaria a pensar em como escapar dali.
Mas nesse momento, ainda assistia, perplexa, a cena aterradora dentro daquele galpão.
O que controlava aqueles doentes para agirem dessa forma? Pareciam tentar infectar também os que estavam, supostamente, saudáveis…
A parte de indagar-se como havia chego ali passou de forma tão rápida que não durou 1 segundo.
Também colados à parede, à sua direita, com pouco espaço de distância, estava um casal, abraçado, tentando controlar-se. Ela tentou chamar sua atenção sem que os outros a ouvissem. Depois de algum tempo assim, em que pareciam desligados do que se passava ali, olharam-na com algum espanto. A princípio, não lhe deram ouvidos, tentando fingir que não ouviam-na.
Em seguida, algo lhes fez perceber que ela não era um deles… Algo que nem ela mesma entendeu.
Sem precisarem falar muito - afinal, o casal também não tinha ideias mais claras sobre aquilo tudo - , começaram a tentar se deslocar ainda grudados à parede, em direção à grande porta.
Um estalo. Foi o suficiente para aquilo tudo ficar mais frenético. Os doentes desataram a correr, e aquilo até parecia um jogo infantil… pareciam não ter discernimento, a doença provavelmente havia afetado aqueles cérebros inchados com uma vontade animalesca de repassar a sua enfermidade… tentavam abraçar aos que ainda sobreviveriam, esfregando suas feridas vermelhas, inchadas, vivas e, de certo modo, pulsantes, nas peles dos outros.
Correram também, ainda em direção à porta. Desviaram de um grupo e, ainda surpreendida, ela notou alguns “saudáveis” ajudando os enfermos a capturarem os outros. Mas não havia tempo para tentar entender aquilo, chegaram à porta e tentaram abri-la. Estava emperrada. Em um momento aparentemente fora dessa dimensão, ela lembrou-se de ter visto, no meio da correria, uma pequena criaturinha, muito branca, de longos cabelos negros presos em uma trança. Não era uma criança, e o que ela trazia vestido não era uma fantasia…
Sim, enxergava melhor, era um homem, o mesmo que conseguia ver se aproximando agora pela fresta da grande porta entreaberta. Dois! Havia dois deles se aproximando. Tentou capturar suas imagens: eram mesmo pequenos, com pouquíssima diferença fisionômica entre eles. Olhou rápido para a multidão agitada, e já não via o terceiro.
Tinham vestes douradas, com detalhes pretos, e das mãos, tatuadas com pequenos detalhes, perfeitos, saíam dedos muito longos, pontiagudos, e unhas pretas. Lembravam algum tipo de cultura oriental, mas nada que pudesse reconhecer. Levavam também chapéus que pareciam quadrados, mas com duas pontas em cima, do mesmo tecido das vestes, não muito grandes – proporcionais.
Abriram a porta, e pareciam contentes, de um jeito inocente. Ela saiu, com o casal, e juntos tentaram avisar as duas criaturinhas o que quer que fosse aquilo… não deram ouvidos, dizendo que precisavam cantar. Cantariam, sim, enquanto eram mortos por aqueles animais!
Nada os dissuadiu, e logo foram arrastados para a multidão. Um segundo depois, estavam mesmo cantando, afogados ali dentro! A música era… suas vozes eram… “maquinais”… mas tinham certa melodia… oscilavam de agudo para grave, muito grave, paradoxalmente em zero segundo, e não tinham “humor” nenhum, era simplesmente um barulho musical.
Ainda assustados, começaram a correr. O “destino” nunca pareceu menos sensato do que nesse exato momento. Fora daquele corredor imenso, completamente normal, com alguma luz, puderam ver que o fim da tarde se aproximava. Ao saírem, se depararam com uma vila minúscula, bem ali, onde aquele terror se passava. Havia poucas casas, talvez cinco ou seis, e mais um grande galpão. O que se passava ali dentro, preferiu não imaginar. Pôde ver também quatro ou cinco pessoas naquela cena. Uma velha na varanda, com um bastão na mão, e um longo vestido azul, de mangas compridas. Tinha os cabelos cinzas presos num coque alto, e um olhar cizudo. Não era muito enrugada. Foi a figura que mais lhe chamou a atenção, mas ao seu pé, viu outra figura não muito mais nova, de penteado e roupa semelhantes, apesar de mais batida, menos arrumada, talvez um pouco descabelada. Estava sentada no chão, com as pernas esticadas para frente, também observando os três fugitivos.
No mesmo instante, dois jovens irromperam do segundo galpão. Eram adolescentes, ou quase adultos, mas não teriam mais de vinte anos, como ela. A primeira tinha algumas sardinhas, cabelos compridos, ruivos e cacheados. Estava vestida toda de verde, calças e blusas largas. O segundo, de cabelos castanhos, um pouco bronzeado, parecia receoso. Estava vestido todo de marrom, também de calças e blusas largas. Ela atônita, ele ainda exitante. Ambos vinham na direção dos fugitivos, como se os conhecessem e soubessem do que fugiam.
De súbito, a porta pareceu ter sido derrubada, e barulhos de pés se arrastando em corrida pareciam aumentar gradualmente em poucos segundos. Não queria imaginar se ocorreria o mesmo com o outro galpão, até ouvir a mesma sequência de barulhos do outro lado…
Sem tempo para trocar muitas palavras, os dois estranhos os convidaram a fugir, mas a essa altura, a multidão duplicada já havia chego até eles. Ela conseguiu se esquivar de alguns, e sem perceber quando, tinha se perdido dos outros. 
Começou a correr, sozinha, subindo uma colina árida que parecia ser o fim da vila. Só esperava não ser uma ilusão. Se esconderia no mato, mais adiante, até recobrar totalmente a consciência e poder gritar. Depois pensaria onde ir.
Desviou de alguns, encostou em algumas peles pegajosas… preferia não pensar naquilo agora. Estava na colina, seus pés levantavam alguma poeira, e só agora percebeu que tinha MUITA sede, como se tivesse dormido por dias. Caiu, como numa cena patética de filme de terror. Pelo menos não estava chorando, ou berrando, histérica.
Alguém a levantou e disse apenas: “vem”. Era o indivíduo de roupa marrom. Atrás dele, vinha a sua cúmplice, mas o casal havia desaparecido na multidão. Não teve tempo de sentir pena. Em algum momento, eles inverteram a posição: ele estava atrás, a outra estava segurando seu braço, de leve, encaminhando-a para uma estrada além da colina.
De um lado: mato, a vila, sem árvores, e do outro, uma espécie de pântano, ou rio, com algumas árvores finas e longos galhos se entrelaçando por cima, formando trechos de um teto. Cipós e musgos cobriam as árvores, e muito desse material caía até a água, que estava verde, ou meio azulada, mas que não se podia ver o fundo.
Não havia muitas folhas, mas a cena era predominantemente verde escuro na altura dos olhos, e cinza no céu… um cinza que tornava tudo um tanto quanto sepulcral. Frio.
A outra agora a encaminhava para um espaço entre a ribanceira do “rio” e a água, um caminho um pouco lamacento. O indivíduo ainda estava silencioso, pesaroso, mas ainda não tinha tido tempo para irritar-se com aquilo. Por um segundo, veio à sua mente pessoas que havia deixado para trás. Não era o casal… não conseguia se lembrar quem exatamente estava com ela… mas esperava que eles também se safassem.
Repentinamente, o tal caminho acabou. Chegou a um limite da lama, e agora o rio não parecia ter fim. Nunca conseguiria caminhar dentro da água, em meio a tantas folhas e galhos, sem que fosse capturada! A outra estava silenciosa e, quando olhou pra trás, viu pessoas da vila junto com os doentes a andarem pela estrada, quase correndo. O indivíduo estava mais silencioso que nunca, de cabeça baixa, e a outra estava totalmente neutra. Ela olhou para a estrada, e viu passar uma carroça. Um cavalo, uma velha de óculos escuros e roupas pretas, uma grande coberta escondendo algo. Não lhe era estranha aquela senhora… Quando a carroça passou, pôde ver 2 ou 3 pessoas que conhecia por baixo da coberta, e entre elas, seu namorado! Não podia ver, mas parecia ele, de costas… tinha certeza de que eram eles! Tentou pular pra cima, gritar, mas as quatro mãos lhe puxaram de volta, afogarando seu pedido de socorro…

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Passo anterior...

O propósito do Blogue, acho que temos que deixar as coisas bem claras.

Quero retomar alguns momentos, quero guardá-los aqui como se ainda estivessem na minha mente, mas que alguém pudesse me dizer se já encontrou esses mesmos em suas próprias cabeças.

Antes eu tinha alguma pouca necessidade em não me sentir estranha, me sentir reconhecida.

Acho que prefiro escrever as coisas em contos.

Contos são uma arte, são um instrumento que precisa ser manejado da forma mais cautelosa e responsável possível, já que abre portas imaginárias que, sem as palavras certas, não se abririam.

Mais do que filmes, que já mastigam por nós o que a imaginação teria de mastigar. Esses são imagens que me parecem mais úteis para documentários, mas como nem tudo hoje em dia precisa ser útil, gosto de filmes, gosto MUITO.

Bom, isso outra vez vai ter que ficar para a próxima.

Já volto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Primeiro passo

Recomeçar, né.

Às vezes dá vontade de começar do começo, manter as coisas organizadas, aqui dentro e aqui fora. Mas o caminho é sempre bagunçado, revoltado e recusa-se a submeter-se à ordem imposta! Mas desplicentemente.
Quase de brincadeira.

Eu já quis ser astrônoma, quando eu era gótica. Antes disso, eu gostava muito dos contos do Sir Conan Doyle, o autor das sagas sagazes do Sr. Sherlock Holmes, um dos meus poucos ídolos. Não pensei da profissão, no "quero ser detetive", simplesmente comecei a ser, lá em casa. Tudo era suspeito, e indícios não faltavam.

Quando eu estava na 6ª série tive uma professora de literatura que contava estórias, narrava de uma forma que nunca tinha ouvido. Sempre estórias macabras, e foi quando me aprofundei em Allan Poe, Stephen King, Agatha Christie, etcéteras. Minha mãe brigou comigo quando aluguei o filme, antigo, "O Cemetério maldito" (Pet Cemetery, em inglês). Ela entrou na sala justamente na hora em que a pequena personagem cuidava da sua irmã corcunda e doente, horrenda. Assim começou meu hábito de assistir filmes de terror escondida. Claro, piores que este.

Ainda não tenho paz de espírito. Continuo na próxima.

"Boa noite, e boa sorte".