sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sonho escrito 02

De repente estava ali, naquela casa estranha, aparentemente abandonada, com um pequeno grupo de pessoas que nunca tinha visto antes. Não teve tempo de olhar pra elas, de reparar, estavam todos com apenas uma coisa em mente: sobrevivência.

Buscavam, reviravam, qualquer coisa que encontrassem serviria. Tinham armas rústicas, lutavam desde há pouco, mas não sabiam mais desde quando exatamente. Algo, de repente, tomou a atmosfera, apoderou-se do mundo e das suas vidas comuns.

As feições só traduziam anseio, remorsos, pressa, medo. Uma mulher, mais velha, liderava o que parecia ser um grupo de sobreviventes que não se contentou com uma toca escondida, como se tivessem de esperar a tempestade passar - se é que passaria. Resolveram sair, resolveram enfrentar o que fosse para retomarem seus mundos, não que esperassem de volta a "normalidade"...

Tentava resgatar alguma clareza de pensamento a todo o momento, precisava ser ágil, prática e, uma vez mais, sobreviver. Naquela casa bem feita, em que há pouco tempo teria habitado uma família de classe média alta bem estruturada, desviavam de alguns sinais de luta, de pães mofados e comida estragada. Precisava encontrar comida, uma mochila onde guardar isso e roupas limpas, instrumentos, e quem sabe tomar um banho rápido, não queria parecer um animal selvagem...

Tentou passar por um corredor longo, assustou-se com estranhos insetos, nunca os tinha visto antes. Provavelmente eram novos. Não sabia como, mas lembrou-se de alguém lhe dizer que eram uma nova espécie naquela região, não se sabia de onde vinham mas eram venenosos, perigosos. Bateu na roupa suja para espantar alguns, pequenas criaturinhas meio aracnídeas pretas e vermelhas, com algum brilho.

Chegou a um tipo de segunda casa anexada à primeira, sem portas. Estavam ali os quartos das crianças, lugares onde pareciam habitar uma garotinha e um menino. Imaginou, por uma fração de segundo, que deviam ser crianças felizes. Sentiu algum conforto, mas sabia que não duraria mais do que poucos minutos. Do outro lado do corredor, encontrou um enorme banheiro, muito bem decorado. No canto direito, atrás de uma parede que cobria apenas metade do banheiro, parecia haver uma grande janela, já que muita luz  vinha dali. Podia ver também o começo de uma grande banheira.

Tomou um banho rápido no chuveiro de fora e só depois pensou em ir olhar à janela. Virando à esquina da meia-parede, viu a imensa janela, tinha uma vista muito agradável, quase a enganou com a sensação de que o mundo estava como sempre esteve. O dia claro entrando por ali, o verde lá fora, de um jardim bem cuidado, com algumas árvores e arbustos fizeram-na esquecer-se de olhar o resto do que estava por trás daquela parede. Quem dera tivesse continuado assim... ao voltar o olhar para o canto, dentro da banheira, viu um homem sem camisa, de costas para ela, olhando pela janela. Estava muito pálido, imóvel, mas respirava muito silenciosamente. Podia notar que havia algo errado, e ela sabia exatamente o que era. Ele já estava ali, à espera, já não tinha por que correr, por que lutar. Já havia se transformado e, ao se virar lentamente, pousou sobre ela aqueles olhos negros, inexpressivos, mortos.

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