Tem tempos, horas, minutos, segundos infindáveis.
Vontade de nada, vontade do tempo, vontade do amanhã. Anular? O dia lá fora revolta-se com essa ideia. Deve servir pra alguma coisa...
Levantar, TV ligada no jornal, catástrofes e conflitos armados lá fora, prendem atenção, informações absorvidas, atualizações, planos de reação. Informações climáticas, é hora de lavar o corpo da noite de sonhos pesados, preocupações vazias, passados.
Banho quente povoado por musiquinhas, linhas de comunicações internas totalmente cruzadas, caminhos sem começo, ideias sem origem (aparente), lembranças relâmpago. Onde vim parar? Já estou no quarto outra vez, me vestindo. Escolhe a roupa de forma desplicente, calor ou fresco? Sentada ou andando..? Nem tão desplicente, provavelmente.
(Variações...sou ela ou sou eu?)
Come qualquer coisa, juntei o que deu, coloquei no microondas. Nem coloco a mesa, estou sozinha hoje, outra vez, sozinha com meu ócio. Assistindo o resto do jornal, logo vou ver meus emails, pesquisar sobre o que vi na TV, esperar ele voltar... vamos passear nas docas? Mas nem tão passiva. Não passivarei! Ontem fui ao teatro. Preferi não ter ido. As coisas perdem a graça devagar. Já preciso me mudar outra vez... mas pareço levar comigo as sementes, o pólen do "tudo volta ao anterior, outra vez...". Não, não da próxima vez...
Lugar do Tudo e do Nada... antes mais nada do que tudo, em mergulhos profundos.
domingo, 27 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
Meio Setembro
Sol quente perde a força. Dia claro, aberto, recolhe-se, descansa. Chuva, vento, nuvens vêm retomando seu lugar nos dias que se seguirão até o próximo ano...
É um caminho sem volta. Desejei que essa troca de turnos chegasse, mas o dia fecha-se tão rápido! Dê-me tempo para despedir-me do Sol, pedir desculpas pelo meu anseio em me livrar de tanto calor!
- É assim, e triste não precisa ser a minha despedida. Partirei em breve, ou deixo-te assim, lentamente? Prefere sentir-me e fotografar-me com a pele? Servirá para nostalgia ou para consolo de que em breve, ou nem tão breve assim, voltarei? Toma, vem aqui fora ficar comigo nesses útlimos momentos. Vem, aproveita que o dia ainda tem cheiro, som, luz, cores.
Sim! E presto atenção à mudança, lembrando-me de me dedicar a isso sempre que descanso a mente, o corpo. Verei a claridade sumir aos poucos, os pássaros esconderem-se do frio e da chuva, as pessoas encolherem-se em preto e cinza, fecharem o rosto, protegerem-se, desaparecerem das ruas, aos poucos.
Ciclos...formigas também se sujeitam a eles.
Para mim ficarão as novas impressões: árvores nuas, vulneráveis, móbidas, solitárias. Mas os galhos secos me alcançam, potiagudos, me absorvem, contrastando com o cinza do céu, de um dia. Que venha, pesado Outono, trazendo nem tão vagarmente o Inverno. Em muitas ocasiões, digo que é o meu preferido...
Para mim ficarão as novas impressões: árvores nuas, vulneráveis, móbidas, solitárias. Mas os galhos secos me alcançam, potiagudos, me absorvem, contrastando com o cinza do céu, de um dia. Que venha, pesado Outono, trazendo nem tão vagarmente o Inverno. Em muitas ocasiões, digo que é o meu preferido...
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Sau... dades?
Saudades, é isso.
Aquela coisa estranha que fica presa na garganta em dias mais monótonos, em dias mais silenciosos. É preciso toda uma série de condições pra que sentimentos como esse venham à tona.
Mas ela sempre sentiu isso, não foi? Ela sempre pensou, com a mente mais lá do fundo, nas coisas e pessoas que deixou pra trás, nas paisagens, nas sensações, nas vidas que teve e que trocou. Não com remorsos, ainda não deu tempo de se arrepender.
Ainda não é uma velha solitária que preferia ter por perto as vidas e condições que sempre teve, e que gastou, como se fosse um jogo estúpido. Pelo menos não por fora, e ainda não por dentro. Ela sabe das coisas que teve que trocar, ela sabe do valor das ausências, e o quanto esse valor extrapola quando ela se deixa parar para pensar nele com todas as suas mentes.
A praticidade e a responsabilidade sempre tentaram sufocar ali dentro as mentes sensíveis, as mentes que se dedicam àquelas paisagens, àquelas risadas, às conversas, aos carinhos, aos olhares, ao conforto. A filha ficou pra trás, a irmã também, mas lembra-se com mais pesar, a namorada e a amiga disputam com a construtora um lugar entre os dias.
Os dias... esses tornam-se pesados com facilidade. Apagam o anseio devagar, e para quem diria que isso é uma boa coisa: não é. É quase como algum bicho que nos consome a energia, que vai-nos retirando pequenos pedacinhos. Até o dia em que nos sentimos deformados, quase irreconhecíveis.
Respirar fundo nas paisagens que a lembram os por quês, os comos e os por quem é o combustível que a permite continuar flutuando naquele rio calmo, debaixo do sol confortante, que injeta pela pele a beleza e frescura do dia, a paz que é estar ali, com o especial dos dias dela, os olhos que a embalam para dormir um sono despreocupado.
Mas esse é um momento em que deixou as coisas brotarem. Aos poucos ela volta à construtora que deixa a namorada e a amiga partilharem com ela o mesmo lugar. É preciso caminhar, parar, descansar, respirar fundo, e levantar outra vez. Os dias continuam bonitos, claros, abertos, ou escuros, cinzas. Quando esses chegarem, vão cativá-la da mesma forma. Ela me contará, e eu escreverei, nos aquis.
Aquela coisa estranha que fica presa na garganta em dias mais monótonos, em dias mais silenciosos. É preciso toda uma série de condições pra que sentimentos como esse venham à tona.
Mas ela sempre sentiu isso, não foi? Ela sempre pensou, com a mente mais lá do fundo, nas coisas e pessoas que deixou pra trás, nas paisagens, nas sensações, nas vidas que teve e que trocou. Não com remorsos, ainda não deu tempo de se arrepender.
Ainda não é uma velha solitária que preferia ter por perto as vidas e condições que sempre teve, e que gastou, como se fosse um jogo estúpido. Pelo menos não por fora, e ainda não por dentro. Ela sabe das coisas que teve que trocar, ela sabe do valor das ausências, e o quanto esse valor extrapola quando ela se deixa parar para pensar nele com todas as suas mentes.
A praticidade e a responsabilidade sempre tentaram sufocar ali dentro as mentes sensíveis, as mentes que se dedicam àquelas paisagens, àquelas risadas, às conversas, aos carinhos, aos olhares, ao conforto. A filha ficou pra trás, a irmã também, mas lembra-se com mais pesar, a namorada e a amiga disputam com a construtora um lugar entre os dias.
Os dias... esses tornam-se pesados com facilidade. Apagam o anseio devagar, e para quem diria que isso é uma boa coisa: não é. É quase como algum bicho que nos consome a energia, que vai-nos retirando pequenos pedacinhos. Até o dia em que nos sentimos deformados, quase irreconhecíveis.
Respirar fundo nas paisagens que a lembram os por quês, os comos e os por quem é o combustível que a permite continuar flutuando naquele rio calmo, debaixo do sol confortante, que injeta pela pele a beleza e frescura do dia, a paz que é estar ali, com o especial dos dias dela, os olhos que a embalam para dormir um sono despreocupado.
Mas esse é um momento em que deixou as coisas brotarem. Aos poucos ela volta à construtora que deixa a namorada e a amiga partilharem com ela o mesmo lugar. É preciso caminhar, parar, descansar, respirar fundo, e levantar outra vez. Os dias continuam bonitos, claros, abertos, ou escuros, cinzas. Quando esses chegarem, vão cativá-la da mesma forma. Ela me contará, e eu escreverei, nos aquis.
Sonho escrito 02
De repente estava ali, naquela casa estranha, aparentemente abandonada, com um pequeno grupo de pessoas que nunca tinha visto antes. Não teve tempo de olhar pra elas, de reparar, estavam todos com apenas uma coisa em mente: sobrevivência.
Buscavam, reviravam, qualquer coisa que encontrassem serviria. Tinham armas rústicas, lutavam desde há pouco, mas não sabiam mais desde quando exatamente. Algo, de repente, tomou a atmosfera, apoderou-se do mundo e das suas vidas comuns.
As feições só traduziam anseio, remorsos, pressa, medo. Uma mulher, mais velha, liderava o que parecia ser um grupo de sobreviventes que não se contentou com uma toca escondida, como se tivessem de esperar a tempestade passar - se é que passaria. Resolveram sair, resolveram enfrentar o que fosse para retomarem seus mundos, não que esperassem de volta a "normalidade"...
Tentava resgatar alguma clareza de pensamento a todo o momento, precisava ser ágil, prática e, uma vez mais, sobreviver. Naquela casa bem feita, em que há pouco tempo teria habitado uma família de classe média alta bem estruturada, desviavam de alguns sinais de luta, de pães mofados e comida estragada. Precisava encontrar comida, uma mochila onde guardar isso e roupas limpas, instrumentos, e quem sabe tomar um banho rápido, não queria parecer um animal selvagem...
Tentou passar por um corredor longo, assustou-se com estranhos insetos, nunca os tinha visto antes. Provavelmente eram novos. Não sabia como, mas lembrou-se de alguém lhe dizer que eram uma nova espécie naquela região, não se sabia de onde vinham mas eram venenosos, perigosos. Bateu na roupa suja para espantar alguns, pequenas criaturinhas meio aracnídeas pretas e vermelhas, com algum brilho.
Chegou a um tipo de segunda casa anexada à primeira, sem portas. Estavam ali os quartos das crianças, lugares onde pareciam habitar uma garotinha e um menino. Imaginou, por uma fração de segundo, que deviam ser crianças felizes. Sentiu algum conforto, mas sabia que não duraria mais do que poucos minutos. Do outro lado do corredor, encontrou um enorme banheiro, muito bem decorado. No canto direito, atrás de uma parede que cobria apenas metade do banheiro, parecia haver uma grande janela, já que muita luz vinha dali. Podia ver também o começo de uma grande banheira.
Tomou um banho rápido no chuveiro de fora e só depois pensou em ir olhar à janela. Virando à esquina da meia-parede, viu a imensa janela, tinha uma vista muito agradável, quase a enganou com a sensação de que o mundo estava como sempre esteve. O dia claro entrando por ali, o verde lá fora, de um jardim bem cuidado, com algumas árvores e arbustos fizeram-na esquecer-se de olhar o resto do que estava por trás daquela parede. Quem dera tivesse continuado assim... ao voltar o olhar para o canto, dentro da banheira, viu um homem sem camisa, de costas para ela, olhando pela janela. Estava muito pálido, imóvel, mas respirava muito silenciosamente. Podia notar que havia algo errado, e ela sabia exatamente o que era. Ele já estava ali, à espera, já não tinha por que correr, por que lutar. Já havia se transformado e, ao se virar lentamente, pousou sobre ela aqueles olhos negros, inexpressivos, mortos.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
"Anjos e Insetos"
- "O mundo mudou tanto, William, durante a minha vida. Estou velho o suficiente para ter acreditado nos primeiros pais no Paraíso. Como um garoto, para ter acreditado em Satã escondido na serpente, e no arcanjo com sua espada flamejante, fechando o portão...
E agora é suposto que eu acredite em um mundo em que somos o que somos por causa das mutações da geléia mole e dos ossos cálcicos, que se repetem e repetem através de inimagináveis milênios...
Um mundo em que anjos e demônios não batalham no Céu, mas no qual comemos e somos comidos, e absorvidos em outros sangues e carnes.
Eu devo mofar como um cogumelo, quando chegar a minha hora. E vai ser em breve.
Eu acabarei minha vida como o esqueleto de uma folha, prestes a se tornar húmo, um rato capturado por uma coruja, um bezerro indo para a carniceria através de um portão que leva a apenas um caminho: sangue, pó e destruição.
E então eu penso: nem uma besta bruta pensaria tais coisas..."
Filme "Anjos e Insetos", 1995.
E agora é suposto que eu acredite em um mundo em que somos o que somos por causa das mutações da geléia mole e dos ossos cálcicos, que se repetem e repetem através de inimagináveis milênios...
Um mundo em que anjos e demônios não batalham no Céu, mas no qual comemos e somos comidos, e absorvidos em outros sangues e carnes.
Eu devo mofar como um cogumelo, quando chegar a minha hora. E vai ser em breve.
Eu acabarei minha vida como o esqueleto de uma folha, prestes a se tornar húmo, um rato capturado por uma coruja, um bezerro indo para a carniceria através de um portão que leva a apenas um caminho: sangue, pó e destruição.
E então eu penso: nem uma besta bruta pensaria tais coisas..."
Filme "Anjos e Insetos", 1995.
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