domingo, 21 de março de 2010

Até Quando..?

O tempo só pode ser uma curva inconstante, espirais, círculos e borrões...

Alguns herdam cargos importantes, outros herdam lutas importantes, convencidos de que apenas têm de mantê-las, sem resultado à vista. Protestos a longo prazo: esses não conhecem uma vida satisfeita, não conhecem direitos respeitados, não conhecem justiça, não conhecem a paz.

Permanências são apenas a esperança, que sobrevive, resiste dia após dia, e a certeza de que alguém precisa ouví-los. Alguns ouvem e pouco podem fazer. Alguns ouvem e nada querem sacrificar. Alguns ouvem mas se convencem. Como, mais? Que instrumentos, mais? Que mensagens, mais? Mais quantos protestos, quantas tentativas? Onde é que isso acaba..? Que fim?





sexta-feira, 19 de março de 2010

E volta ao abrigo

 Hoje volta, chuva, retoma seu trabalho, mas agora de fertilizante.

Prepara a terra e as pessoas para a primavera que vem chegando, chove devagarinho, com menos ventania e com mais calmaria, refresca o ar saturado, humedece o resto de frio, secura esturricada e um inverno que já durou demais, gastou demais.

Pequenas flores, brotinhos, corezinhas nascem bem calmas, tomando seu tempo, nas pontas dos galhos ainda secos, contentes por serem decorados, já fazia tanto tempo... folhinhas verdes despontam e fazem companhia às flores recém-nascidas, lembram as pessoas que não se esqueceram de nós.

Vem chegando, primavera, bem lentamente... reaparece tímida, fazendo força, pede licença ao inverno e reanima as pessoas, ainda em abrigos, ainda protegidas.

sábado, 13 de março de 2010

Há vida, afinal!

O Sol! 

Aparece hoje, sol, irrompe céu afora, explode, traz as pessoas de volta à vida! 

Saíram todos das tocas, apareceram no dia, sorriram, saíram do coma, saíram do espaço cinzento em que pausaram a vida. 

Árvores se convencem aos poucos a soltarem flores, brisa se convence aos poucos a menos ira, menos gélida. Sopra devagar, formata as nuvens em paisagem mais clara, em verdes mais abertos, em céu mais maduro. Leva meus cabelos devagar, refresca minha pele mais calma, leva minha alma pra flutuar mais leve, sem pressa para voltar. Não tenho pressa pra voltar, abro os olhos vez ou outra, lembrar a paisagem de cores tênues, brandas, irradiantes em sol, revigorante.

Continua seu caminho, sol, continua a volta, vontades! Me levanta o corpo mais leve, a alma mais calma, desejos mais brandos, mais mais.


domingo, 7 de março de 2010

Passando

Eu já não limpo meus (2) emails, já não vejo meu orkut, já não escrevo em minha agenda - já não a confiro, já não desperto completamente, já não durmo (só) o suficiente.

As datas se perdem, as semanas pulam, saltitam, rolam, desaparecem, alcançando os meses sem qualquer dificuldade.

Passo em movimento fluído, transporto a matéria em movimentos quase involuntários, de acordo com o programado. E alguns programas ainda ficam para trás, naquele tempo que perdi, sem retomada.

Olha à tua volta: pouca coisa realmente preenche uma paisagem borrada como a tua. Espera pela próxima, continua saltando detalhes, nem respira direito. Inspira, expira; mais uma vez.

E já chego em Março, ainda sem primavera, atrasada num ano confuso. Se perdeu no caminho, ou tem receio de hoje aparecer: alguém vai notar? O inverno já parece ter engolido as pessoas todas, imersas em desejos silenciosos, sem risadas, sem demasiadas expressões. Ainda estão em tocas, ainda esperam dias melhores para viver.

Vamos passando, ansiando dias mais claros, noites mais frescas, brisas menos gélidas, paisagens menos cinzas - belas em seus tempos, mas não em tempos demais.



sábado, 6 de março de 2010

What do you see? Something beautiful or something free?

Metade do mundo pensa em se encaixar socialmente, em reproduzir o que acham seguro ser reproduzido, em assegurar o que acham confortável, em terem suas necessidades providenciadas (construídas) e depois satisfeitas, num ciclo de alienações interminável, vicioso, finalizante.

Os outros - bem, são os outros, que não se encaixam e que não entendem que as coisas são enquadradas, não aceitam os provedores, não reproduzem (ou tentam não reproduzir) o já adquirido como absoluto. São os marginais, os silenciados, os ignorados e de quem se tem medo, a quem se olha com suspeita, com receio - o distúrbio da nossa confortável e programada realidade é imperdoável. Nossa segurança está acima da nossa liberdade - já ninguém sabe o que liberdade significa e mesmo o resquício que existe é para poucos.

A caixinha está formatada e lacrada, já ninguém consegue abri-la. Modelos de pensamento consumiram o mundo e qualquer um que comece a tentar transpô-los é logo descredibilizado. Viva do outro e para o outro, mantendo, sustentando e cultivando o protótipo de liberdade que poucos têm. O resto, bem, é o resto.



[I see something beautiful AND something free, um dia desses...]

Como é que isso termina?

Mas você sabe onde isso vai parar?

Ou se quer por onde é que isso começa.

Ansiedade é a primeira que chega, a primeira que apressa as coisas, as ideias, as expectativas, os devaneios, as viagens temporais e os longos momentos vidrados em qualquer quadro do dia/da noite, da viagem ou da chegada, do caminho ou da partida.

Eu só sei que quero caminhar, não me venha com tantas perguntas! E às vezes ainda quero correr, mergulhar, dormir hoje e acordar no ano que vem, com tudo o que planejo prestes a acontecer. Saltei o caminho todo, mas a tal ansiedade agradece. E meu consumo frequente de alimentos impróprios dela consequência também diminui...

Pensando bem, então, talvez o caminho compense, já que adoro esse, o consumo de alimentos impróprios...! E as unhas roídas, os devaneios perdidos no vidro embaçado do ônibus --» (meu corretor português de Portugal me lembra que é "embaciado" e "autocarro" que se escreve aqui), as divagações em noites nebulosas, em dias de ventania, escutando a ira batendo à janela - reabro pra tomar fôlego. E já sei como isso tudo funciona, desde o começo... (Re)Comecemos.