domingo, 30 de agosto de 2009

Idosos

Esvaziou-se.

Foi, com o vento. Um estalo, e acabou. Mudando de assunto...

Indagações sem forma verbal - sonho escrito 01

Indagações sem forma verbal.
Não sabia que horas eram, que dia era, de onde viera e muito menos como fora parar ali. Não tinha acabado de acordar de um desmaio, ou algo do gênero, mas parecia acabar de recobrar a consciência. Também não havia perdido a memória, sabia muito bem quem era, e as pessoas que conhecia. Só parecia ter perdido algum tempo no vento.
 
Demorou um tempo até olhar à sua volta. Os olhos pareciam pesados demais para serem levantados, mas também ainda nem tinha pensado em olhar.
Um horror. Algo quente percorreu-lhe o corpo a toda velocidade, e pareceu dar-lhe forças para se desesperar. Estava em um tipo de galpão, mas com grandes janelas, se pode-se chamar assim, e uma enorme porta de ferro: fechada.
Por que não chegar às janelas? O galpão estava abarrotado de… zumbis?!
Não, um olhar mais crítico a fez perceber que estavam todos bem vivos – inclusive ela -, mas com algum tipo de doença horrorosa, talvez como aquela peste da Idade Média na Europa.
Numa segunda análise, pôde ver que pouquíssimas pessoas ali não tinham aquela doença, mas pareciam agir como se tivessem. Ela mesma não tinha, certamente. Ou, pelo menos, não em estágio tão avançado. Essa segunda análise deu-se em uma fração de segundo perdido, já que o desespero se seguia. Não entendia o comportamento daquelas pessoas, doentes, mas de alguma forma, controladas por algum pensamento maligno. Não, não que pudesse ler mentes, mas via-as tentando capturar os que não pareciam doentes. Talvez essa fosse a razão para agirem como tais…
Estava em um canto, nada protegida, e logo começaria a pensar em como escapar dali.
Mas nesse momento, ainda assistia, perplexa, a cena aterradora dentro daquele galpão.
O que controlava aqueles doentes para agirem dessa forma? Pareciam tentar infectar também os que estavam, supostamente, saudáveis…
A parte de indagar-se como havia chego ali passou de forma tão rápida que não durou 1 segundo.
Também colados à parede, à sua direita, com pouco espaço de distância, estava um casal, abraçado, tentando controlar-se. Ela tentou chamar sua atenção sem que os outros a ouvissem. Depois de algum tempo assim, em que pareciam desligados do que se passava ali, olharam-na com algum espanto. A princípio, não lhe deram ouvidos, tentando fingir que não ouviam-na.
Em seguida, algo lhes fez perceber que ela não era um deles… Algo que nem ela mesma entendeu.
Sem precisarem falar muito - afinal, o casal também não tinha ideias mais claras sobre aquilo tudo - , começaram a tentar se deslocar ainda grudados à parede, em direção à grande porta.
Um estalo. Foi o suficiente para aquilo tudo ficar mais frenético. Os doentes desataram a correr, e aquilo até parecia um jogo infantil… pareciam não ter discernimento, a doença provavelmente havia afetado aqueles cérebros inchados com uma vontade animalesca de repassar a sua enfermidade… tentavam abraçar aos que ainda sobreviveriam, esfregando suas feridas vermelhas, inchadas, vivas e, de certo modo, pulsantes, nas peles dos outros.
Correram também, ainda em direção à porta. Desviaram de um grupo e, ainda surpreendida, ela notou alguns “saudáveis” ajudando os enfermos a capturarem os outros. Mas não havia tempo para tentar entender aquilo, chegaram à porta e tentaram abri-la. Estava emperrada. Em um momento aparentemente fora dessa dimensão, ela lembrou-se de ter visto, no meio da correria, uma pequena criaturinha, muito branca, de longos cabelos negros presos em uma trança. Não era uma criança, e o que ela trazia vestido não era uma fantasia…
Sim, enxergava melhor, era um homem, o mesmo que conseguia ver se aproximando agora pela fresta da grande porta entreaberta. Dois! Havia dois deles se aproximando. Tentou capturar suas imagens: eram mesmo pequenos, com pouquíssima diferença fisionômica entre eles. Olhou rápido para a multidão agitada, e já não via o terceiro.
Tinham vestes douradas, com detalhes pretos, e das mãos, tatuadas com pequenos detalhes, perfeitos, saíam dedos muito longos, pontiagudos, e unhas pretas. Lembravam algum tipo de cultura oriental, mas nada que pudesse reconhecer. Levavam também chapéus que pareciam quadrados, mas com duas pontas em cima, do mesmo tecido das vestes, não muito grandes – proporcionais.
Abriram a porta, e pareciam contentes, de um jeito inocente. Ela saiu, com o casal, e juntos tentaram avisar as duas criaturinhas o que quer que fosse aquilo… não deram ouvidos, dizendo que precisavam cantar. Cantariam, sim, enquanto eram mortos por aqueles animais!
Nada os dissuadiu, e logo foram arrastados para a multidão. Um segundo depois, estavam mesmo cantando, afogados ali dentro! A música era… suas vozes eram… “maquinais”… mas tinham certa melodia… oscilavam de agudo para grave, muito grave, paradoxalmente em zero segundo, e não tinham “humor” nenhum, era simplesmente um barulho musical.
Ainda assustados, começaram a correr. O “destino” nunca pareceu menos sensato do que nesse exato momento. Fora daquele corredor imenso, completamente normal, com alguma luz, puderam ver que o fim da tarde se aproximava. Ao saírem, se depararam com uma vila minúscula, bem ali, onde aquele terror se passava. Havia poucas casas, talvez cinco ou seis, e mais um grande galpão. O que se passava ali dentro, preferiu não imaginar. Pôde ver também quatro ou cinco pessoas naquela cena. Uma velha na varanda, com um bastão na mão, e um longo vestido azul, de mangas compridas. Tinha os cabelos cinzas presos num coque alto, e um olhar cizudo. Não era muito enrugada. Foi a figura que mais lhe chamou a atenção, mas ao seu pé, viu outra figura não muito mais nova, de penteado e roupa semelhantes, apesar de mais batida, menos arrumada, talvez um pouco descabelada. Estava sentada no chão, com as pernas esticadas para frente, também observando os três fugitivos.
No mesmo instante, dois jovens irromperam do segundo galpão. Eram adolescentes, ou quase adultos, mas não teriam mais de vinte anos, como ela. A primeira tinha algumas sardinhas, cabelos compridos, ruivos e cacheados. Estava vestida toda de verde, calças e blusas largas. O segundo, de cabelos castanhos, um pouco bronzeado, parecia receoso. Estava vestido todo de marrom, também de calças e blusas largas. Ela atônita, ele ainda exitante. Ambos vinham na direção dos fugitivos, como se os conhecessem e soubessem do que fugiam.
De súbito, a porta pareceu ter sido derrubada, e barulhos de pés se arrastando em corrida pareciam aumentar gradualmente em poucos segundos. Não queria imaginar se ocorreria o mesmo com o outro galpão, até ouvir a mesma sequência de barulhos do outro lado…
Sem tempo para trocar muitas palavras, os dois estranhos os convidaram a fugir, mas a essa altura, a multidão duplicada já havia chego até eles. Ela conseguiu se esquivar de alguns, e sem perceber quando, tinha se perdido dos outros. 
Começou a correr, sozinha, subindo uma colina árida que parecia ser o fim da vila. Só esperava não ser uma ilusão. Se esconderia no mato, mais adiante, até recobrar totalmente a consciência e poder gritar. Depois pensaria onde ir.
Desviou de alguns, encostou em algumas peles pegajosas… preferia não pensar naquilo agora. Estava na colina, seus pés levantavam alguma poeira, e só agora percebeu que tinha MUITA sede, como se tivesse dormido por dias. Caiu, como numa cena patética de filme de terror. Pelo menos não estava chorando, ou berrando, histérica.
Alguém a levantou e disse apenas: “vem”. Era o indivíduo de roupa marrom. Atrás dele, vinha a sua cúmplice, mas o casal havia desaparecido na multidão. Não teve tempo de sentir pena. Em algum momento, eles inverteram a posição: ele estava atrás, a outra estava segurando seu braço, de leve, encaminhando-a para uma estrada além da colina.
De um lado: mato, a vila, sem árvores, e do outro, uma espécie de pântano, ou rio, com algumas árvores finas e longos galhos se entrelaçando por cima, formando trechos de um teto. Cipós e musgos cobriam as árvores, e muito desse material caía até a água, que estava verde, ou meio azulada, mas que não se podia ver o fundo.
Não havia muitas folhas, mas a cena era predominantemente verde escuro na altura dos olhos, e cinza no céu… um cinza que tornava tudo um tanto quanto sepulcral. Frio.
A outra agora a encaminhava para um espaço entre a ribanceira do “rio” e a água, um caminho um pouco lamacento. O indivíduo ainda estava silencioso, pesaroso, mas ainda não tinha tido tempo para irritar-se com aquilo. Por um segundo, veio à sua mente pessoas que havia deixado para trás. Não era o casal… não conseguia se lembrar quem exatamente estava com ela… mas esperava que eles também se safassem.
Repentinamente, o tal caminho acabou. Chegou a um limite da lama, e agora o rio não parecia ter fim. Nunca conseguiria caminhar dentro da água, em meio a tantas folhas e galhos, sem que fosse capturada! A outra estava silenciosa e, quando olhou pra trás, viu pessoas da vila junto com os doentes a andarem pela estrada, quase correndo. O indivíduo estava mais silencioso que nunca, de cabeça baixa, e a outra estava totalmente neutra. Ela olhou para a estrada, e viu passar uma carroça. Um cavalo, uma velha de óculos escuros e roupas pretas, uma grande coberta escondendo algo. Não lhe era estranha aquela senhora… Quando a carroça passou, pôde ver 2 ou 3 pessoas que conhecia por baixo da coberta, e entre elas, seu namorado! Não podia ver, mas parecia ele, de costas… tinha certeza de que eram eles! Tentou pular pra cima, gritar, mas as quatro mãos lhe puxaram de volta, afogarando seu pedido de socorro…

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Passo anterior...

O propósito do Blogue, acho que temos que deixar as coisas bem claras.

Quero retomar alguns momentos, quero guardá-los aqui como se ainda estivessem na minha mente, mas que alguém pudesse me dizer se já encontrou esses mesmos em suas próprias cabeças.

Antes eu tinha alguma pouca necessidade em não me sentir estranha, me sentir reconhecida.

Acho que prefiro escrever as coisas em contos.

Contos são uma arte, são um instrumento que precisa ser manejado da forma mais cautelosa e responsável possível, já que abre portas imaginárias que, sem as palavras certas, não se abririam.

Mais do que filmes, que já mastigam por nós o que a imaginação teria de mastigar. Esses são imagens que me parecem mais úteis para documentários, mas como nem tudo hoje em dia precisa ser útil, gosto de filmes, gosto MUITO.

Bom, isso outra vez vai ter que ficar para a próxima.

Já volto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Primeiro passo

Recomeçar, né.

Às vezes dá vontade de começar do começo, manter as coisas organizadas, aqui dentro e aqui fora. Mas o caminho é sempre bagunçado, revoltado e recusa-se a submeter-se à ordem imposta! Mas desplicentemente.
Quase de brincadeira.

Eu já quis ser astrônoma, quando eu era gótica. Antes disso, eu gostava muito dos contos do Sir Conan Doyle, o autor das sagas sagazes do Sr. Sherlock Holmes, um dos meus poucos ídolos. Não pensei da profissão, no "quero ser detetive", simplesmente comecei a ser, lá em casa. Tudo era suspeito, e indícios não faltavam.

Quando eu estava na 6ª série tive uma professora de literatura que contava estórias, narrava de uma forma que nunca tinha ouvido. Sempre estórias macabras, e foi quando me aprofundei em Allan Poe, Stephen King, Agatha Christie, etcéteras. Minha mãe brigou comigo quando aluguei o filme, antigo, "O Cemetério maldito" (Pet Cemetery, em inglês). Ela entrou na sala justamente na hora em que a pequena personagem cuidava da sua irmã corcunda e doente, horrenda. Assim começou meu hábito de assistir filmes de terror escondida. Claro, piores que este.

Ainda não tenho paz de espírito. Continuo na próxima.

"Boa noite, e boa sorte".